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sábado, 27 de outubro de 2018

Ansiedade

Os dedos doem pelas unhas exacerbadamente roídas, as vezes sangram, inclusive.
Meu rosto entrega as seguidas noites mal dormidas.
A playlist "Na bad" já triplicou seu número de canções.
As pessoas notam minha boca calada e esse riso amarelo no lugar da gargalhada sempre alta.
O que não como já faz falta nas minhas roupas, cada dia mais vazias de mim.

A mente, outrora ágil e ativa, hoje mal consegue produzir além das frases melancólicas sobre esse tema batido:
Ele, eu, nós.
Fico pensando nas brincadeiras, nos planos feitos e não concretizados, nas viagens que não fizemos, mas vitórias que não comemoramos, nos amigos e familiares que não conhecemos, histórias que não dividimos e tudo isso só me deixa assim, sem cores, com essa palpitação que não me deixa dormir (presença cativa aqui), junto com o aperto no peito, falta de ar... então eu roou mais uma vez as unhas que já não tenho.  

E como explicar que eu quero ficar mas preciso ir?
E como mudar sem nos ferir?
Como continuar sem achar que estamos nos prendendo por medo de ficar sem o outro?
São tantas dúvidas, tantas perguntas sem respostas que eu fico assim, nesse mundo meio cinza pensando em tudo isso que tem a ver com nós.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Merthiolate

A gente não foi a Pipa, Galinhos ou Monte das Gameleiras.
Não fomos a Argentina, Canadá ou Japão.
Não fomos a nenhum casamento de amigos nossos.
Você não me deu um anel de cocô ou de ouro.
Não comemoramos aprovação e posse em algum concurso.
Não comemoramos sua habilitação.
Não conheci sua filha.
Não conhecemos a família distante um do outro ou as histórias que nos fazem.
Tanta coisa não vivemos e queríamos ter vivido que dói pensar e mais ainda se pensar no que ainda poderíamos sonhar. O difícil não é tomar decisões e sim sustentá-las quando se ama, quer bem, se importa. 
Não pense que tá sendo ótimo do lado de cá. Cada pensamento nostálgico, seja do passado ou do futuro, é como se fosse Merthiolate (dos meus tempos de infância obviamente) num arranhão dos mais enormes que já consegui: Arde e faz chorar.

sábado, 20 de outubro de 2018

A Raiva que deu

Estávamos deitados numa rede naquela sala pequena pós almoço de domingo. Não dava para nos mexer muito pois minha cabeça poderia bater na estante, as costas dele no sofá... então ficamos quietinhos, aguardando o tão esperado momento.
A semana toda, duas semanas da verdade, caiu de mim uma venda que eu mesma havia posto e, ao me dar conta disso não me senti confortável com tudo como estava. As coisas precisavam mudar e tinha quer ser logo se não eu mesma me mudaria. Fiquei dias e dias pensando na vida, distante, estranha. Ele estava com muito receio, prevendo o fim assim como eu, que tentava ao máximo encontrar um momento certo, as palavras certas, e já era domingo de tarde e nada havia sido dito. Em poucas horas eu viajaria e nada mudaria.
Ele me beijou e depois de um tempinho, eu cedi ao beijo e foi bom mas começou e me subir uma... uma raiva, e eu comecei a bater nele com uma almofada (e não só ficou por ai, boatos que teve até paus e pedras) por me fazer gostar tanto mesmo sendo tão diferentes um do outro. Ele, por sua vez não estava entendendo nada e só conseguia rir, porque eu estava engraçada (já ouvi isso outras vezes, que quando eu estou irritada fico engraçada pois começo a falar alto, gesticular demais...)
Na verdade, minha raiva maior era de mim mesmo, por estar numa situação desconfortável e não conseguir mudar ou sair. Não gosto de me sentir vulnerável e gostar dele faz isso comigo, me deixa de uma situação que eu não aceitaria de forma alguma em outros tempos, uma eu de uns anos atrás. E o que fiz com essa raiva? Dissipou mas a venda caída me deixa a cada dia um pouco mais desgostosa com tudo isso e as possibilidades de futuro com tamanhas diferenças.