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sábado, 11 de julho de 2015

Os caras e Eu

Nunca fui boa em flertes. Nos tempos de escola, vi vários amigos paquerando e desde ali já percebi que não possuía a arte do flerte. Acho que por isso mesmo "demorei" um pouco para começar a namorar e todos os caras da minha vida vinham do convívio, dos ciclos de amizades.
Não sei, até hoje, fazer jogos de sedução. Pra falar a verdade, sempre achei perigoso esse lance de brincar de amor, apesar de ser aparentemente fria, não gosto de brincar com sentimentos.
Não me envolvi com muitos caras na vida, certamente bem menos que várias meninas de 13 anos que vejo por ai. Tive envolvimentos físicos e (principalmente) emocionais, e cada um teve sua trilha sonora na minha vida: Legião Urbana, Seu Jorge, Cássia Eller, Dorgival Dantas (haja coração!) Leoni, Djavan, O Teatro Mágico, Asa de Águia, Caetano Veloso, Engenheiros do Hawaii... todos embalaram momentos e histórias. Nem todos chegaram a um envolvimento pleno, aliás, talvez apenas um, ou nenhum.
Com esses caras aprendi muito pois, como eram meus amigos, convivíamos sem expectativas um no outro e acabavam surgindo as semelhanças e afinidades; O interesse nunca era imediato, crescia o tempo e proporcionalmente á admiração, talvez por isso tenham sido tão marcantes: era mais que aparência, muito mais. Agora, pensando em todos eles, vejo que nenhum deles era do tipo modelo, do tipo de academia, não estavam nos padrões de beleza. Todos magricelos (exceto um, que era gordinho :D), a maioria branco como velas, fora as peculiaridades de cada um (escoliose, sorriso torto, extremamente alto...), o que me atraiu em cada um deles não foi o que eu via com os olhos, era o que eu sentia com eles, o que eu ouvia, eu gostei do espírito, da essência deles. Era algo forte, coisa de ligação de mentes, intenso.
Nunca consegui me ligar apenas pela capa, eu preciso saber do conteúdo e depois, quero saber o que os levou àquele estado. Toda pessoa é o resultado das situações que vivenciou e o que fez com elas. Eu, como uma pessoa analítica que sou, gosto de entender, compreender o processo me encanta muito mais que o resultado final. Antes de me apaixonar por esses caras eu os admirei pelo que eram. Pelo que seria e pelo que poderia ser e não foram. 
O primeiro, era autêntico, despojado e amigo de todos. Era um cara muito mais maduro que os 12 anos que tinha, o mais velho da turma. Apesar da vida confortável não foi fácil encarar o divórcio dos pais e se tornar o homem da casa aos 9, tendo ainda dois irmãos menores para "cuidar e proteger". Tinha um lindo sorriso metálico (quando ele tirou o aparelho ficou melhor ainda). Era louco por rock e foi graças a ele que conheci a Legião Urbana, minha banda preferida até hoje. A legião e as letras do Renato me ensinaram muito sobre pensamento crítico e isso me ajudou muito a encarar a adolescência.
Depois do cara mais velho que não me deu bola, a história se inverteu: um cara mais novo surgiu. Doido por animais e calmaria, aprendi tanto sobre cuidado ao próximo! Aprendi como um carinho as vezes cai bem (Sábio Caetano!). Ele chegava assim, do nada, me abraçando, fazendo cafuné, massagem (que mãos!). Era um rapaz lindo, de coração tão puro e com um enorme abraço de urso! Vivia me mandando músicas e pedindo indicação de livros que, surpreendentemente, lia mesmo e vinha conversar sobre eles depois. Passávamos tardes e tardes juntos na janela do meu quarto, em silêncio, apreciando o sol se pôr.
Em paralelo a este, surgiu um mais velho que eu. Ele era muito tímido e, como eu era também, mal nos olhávamos. Era estranho, mas só depois que me mudei criamos vínculos, a distância mesmo, e descobrimos tantas afinidades. Me acordava com mensagens e trechos de músicas (iluminavam meus dias). Passamos longas madrugadas conversando sobre tudo e nada, rindo e discutindo também. Este eu fiz sofrer. Nunca foi minha intenção, sempre fui sincera quanto aos meus sentimentos, deveria ter me afastado mas já tinha tanto carinho por ele. Por fim ele se deu um tempo para organizar os sentimentos e ainda somos grandes amigos, conversamos sobre absolutamente tudo e mesmo assim, sempre há algo novo para aprender com ele e sobre ele.
Este outro rapaz, surgiu quando nem sabíamos andar, e esteve sempre ali, pertinho, sempre dividindo seus brinquedos e lanche, até que quando crescemos veio dividir comigo beijos e segredos. Eramos tão amigos que podíamos completar qualquer história que o outro começasse. Tínhamos músicas, viagens, sonhos e festas juntos (tentou me ensinar a dançar, sem muito sucesso, porém nos aproveitamos das "aulas"). Aprendi muito, ele me abriu um mundo de possibilidades quando entrou dessa outra forma em minha vida. Uma pena estarmos em momentos diferentes da vida quando esse sentimento surgiu, poderíamos ter sido um casal bem bacana.
Até agora, depois dele "os outros são os outros e só". Ainda assim, com estes aprendi mais sobre mim. Me entendi mais, foram experiências as vezes nem tão agradáveis, mas que sem elas eu não teria tantas certezas sobre o que eu quero para mim, para minha vida, e o que eu espero ou não do cara que ficará no meu lado quando nos encontrarmos pela vida.
Agora estou numa fase de sonhos e dúvidas. Sonhar com alguém aparentemente tão "sua pessoa" e tão perto é meio perturbador, até onde a realidade se confunde com o sonho? Até onde pode-se confiar nos "sinais"?
Sou muito feliz pelos caras que surgiram na minha vida e contribuíram para a formação da mulher que sou hoje, sinto que estou cada vez mais pronta para viver uma histórica com o tal cara certo, O cara, se é que me entendem.

"Me espera amor que estou chegando
Depois do inverno é a vida em cores
Espera amor nossa temporada das flores"
Temporada das flores - Leoni

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