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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

And I'm feeling good

A viagem, assim como foi para chegar aqui, será longa até chegar em casa. Tem gente que odeia viagens longas, pelo cansaço e desconforto que causam, pela possibilidade de dividir poltronas com desconhecidos... essas coisas. Viajar é sair da nossa zona de conforto e eu costumo gostar. Me dá a possibilidade de passar um bom tempo comigo mesma, sem o peso na consciência gritando que eu deveria está fazendo algo produtivo; ali não há muito o que fazer além de ler, ouvir música, pensar ou dormir. 

E eu faço tudo isso.
Consegui sentar numa janela e por um milagre não há ninguém ao meu lado, então posso me esticar para ficar mais a vontade nas duas poltronas. O ônibus também é bom, as poltronas são confortáveis e há ar condicionado. Serão boas 6 horas até chegar em casa. 
Ligo os celular tocando as músicas no modo aleatório e me divirto ouvindo músicas que há muito não ouvia. Músicas suaves, dançantes, rocks, sambas e até mesmo as internacionais que eu geralmente evito por gostar de cantar mas não saber - mantenho-as no celular pelos ritmos que me fascinam. Fico feliz por ter tanta memória, quase toda ocupada por músicas. 
Entre as letras, melodias e arranjos viajo nas paisagens e em pensamentos. Nunca havia viajado por esses lados e chega a ser estranho constatar que meu pequeno estado é na verdade tão grande assim. Passo por rios, pontes, cidades e entre uma parada e outra esculto sotaques diferentes. Como deixamos de conhecer nossas origens, não é mesmo? Há ainda tantas cidades aqui que eu se quer sei o nome! Passando por esses interiores acabo passeando um pouco em meu interior também. Olhando por essa janela vejo como as coisas estão mudando, como tenho crescido e sonhado. Penso na prova que fiz no dia interior, na importância que ela teria para o início da minha carreira e em como fui mal. Penso no plano B, plano C e em como as coisas estão acontecendo rápido em 2016. O ano começou tão diferente, tão cheio de metas e mudanças internas que acabam refletindo em mudanças externas, como meu corte de cabelo, por exemplo. 
Em dezembro cortei cerca de 2/3 do meu cabelo. Aquele cabelão que sonhei ter por tanto tempo já não combinava comigo, acho que mudei durante o processo de crescimento, devo ter crescido de outras formas também. O cabelo carregava alguns pesos que eu queria me livrar então optei pelo ato mais rápido e impactante: tesoura nele. Obviamente foi um susto para os outros, mas eu já me via diferente no espelho, nos textos e gestos e ter uma imagem que combinasse com a pessoa que vejo refletida, aqui mesmo nessa janela, era algo que eu precisava. E foi bom, me sinto tão eu agora, tão cheia de mim!
Como que atendendo a um pedido que eu nem tinha feito, meu celular enche meus ouvidos com a voz do Machael Dublé ("Birds flying high you know how I feel, Sun in the sky you know how I feel, Breeze driftin' on by you know how I feel") cantando a música Feeling good, da grande artista Nina Simone. Cada vez que esse jazz sobe, os metais tocando alto, a voz potente, meu coração bate feliz e o arrepio é inevitável. A letra me toca por exatamente por interpretar o que eu estou sentindo, And I'm feeling good.
Não me controlo e danço desajeitada, ali mesmo, em minha poltrona na janela, do lado do sol e com a cortina aberta.  Fecho os olhos e sinto os raios de sol (o sol que me faltava), a música balança meu corpo de uma forma que não consigo evitar (nem quero, nem tento), o sorriso vem e eu canto. Balançando a cabeça no ritmo da música e tentando não encher demais os pulmões para não gritar. Paro de pensar e me permito apenas sentir. And I'm feeling good.

It's a new dawn
It's a new day
It's a new life
For me
And I'm feeling good

("É um novo amanhecer, é um novo dia, é uma nova vida para mim, e estou me sentindo bem")


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