Páginas

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Belo estranho dia

Eu estava com medo, essa é a sensação mais gritante que consigo lembrar daquela tarde. Não haviam ônibus nas ruas e elas estavam parcialmente iluminadas. O desespero estava estampado nas poucas faces que eu encontrava nas ruas, todos tentavam se esconder ou encontrar alguém querido que se perdeu ao ouvi aquele som estrondoso. O caos havia tomado a cidade e o ar continha uma tensão estranha, algo que eu nunca tinha sentido antes. Pavor. Parecia algo que eu gostava de ver na infância nos filmes de terro ou suspense, a diferença era que era real e eu não estava gostando. Estava sozinha e não sabia como chegar em casa, não por está perdida mas por não saber o trajeto menos perigoso para chegar lá. Me sentia num jogo do Mario Bros, surreal.

A noite já caia quando começou a chover e tentei me abrigará em uma marquise de uma loja, logo a quantidade de gente diminuiu e me vi como um alvo fácil. Ouvi o som de de motor potente, risos e música alta e senti o meu calor se dissipar. Corri, tentei correr, tanto quanto minhas pernas e pulmões permitiam e consegui abrigo na portaria de um condomínio, acho que o porteiro sentiu pena de mim.
Lá dentro observei que haviam outras pessoas, pessoas que eu conhecia até, lá... Ele estava ajudando muita gente mas não poderia fazer isso por muito tempo. Ao cessar a queda das pingos tivemos que sair, em grupo mesmo, para uma garagem subterrânea, não muito longe dali. Eu, pedida como estava, fui assim mesmo. Chegando lá encontrei rostos amigos e familiares e ao percebermos que estávamos bem após tamanha tensão, rimos abraçados. 
Naquela garagem vi pessoas que estavam brigadas conversando, pessoas amigas rindo, alguns até dançavam. Ali, naquele cantinho quente e abafado vi, que por mais que esteja tudo um caos, há esperança. Há possibilidades de ser melhor. Era confuso ver aquele clima fraterno e de paz quando a cidade estava em chamas, imersa em violência descaso e medo. O caos está lá fora mas, aqui dentro existe um pequeno grupo que está se consertando, pensei. Se ajudando, se perdoando, se alegrando. Tá tudo errado externamente mas enquanto existir disposição para ser melhor internamente, temos chance. Que belo estranho dia pra se ter alegria, não é mesmo?!
Com esse pensamento esperançoso abri os olhos. Estava em minha cama quentinha naquela manhã de sábado chuvosa. 
Passava das 7 e eu tinha aula. 
Hora da realidade. 
Hora de fazer melhor e diminui o caos, em algum lugar.

Um comentário: