domingo, 30 de agosto de 2015

Ai quem me dera voltar pros braços do meu xodó

Era um sábado à noite de agosto maravilhoso. Eu estava radiantemente feliz e queria mesmo era comemorar. E foi o que fiz. Juntei alguns amigos e fui para uma balada. O que ia rolar? Tributo ao saudoso Luiz Gonzaga. Momento perfeito para dançar à dois, se eu soubesse, claro.
Mas como eu não sou besta nem nada, estava aceitando aulas de xote. Eu dancei só por um tempo até um cara me olhar. Coisa linda, mas sabe quem me chamou pra dançar? Pois é, o amigo dele.
Ele era um cara bonito também. Magro (do tipo fortinho, sabe?!), uma barba impecável, um sorriso de menino e os olhos que ficavam puxadinhos quando ele sorria. Ah, ele também era muito cheiroso e bem alto. Alto mesmo. Eu, chamada de chaveirinho com meus suaves 1,50 de altura, dançando com um cara de 1,80. Ainda com salto alto, a diferença era gritante. Por causa disso ele ficava numa posição bem estranha para ficar perto de mim o máximo possível e eu toda esticada. Deve ter sido uma cena engraçada, de fato.
E estávamos não só dançando, segundo me contaram, demos um show. Eu explico. Ele era um cara muito engraçado e cantava muito mal, por conta disso rimos muito e logo as bocas se encontraram. Depois desse encontro não queriam mais se afastar, nem deviam. A sincronia era tamanha que nossos corpos estavam totalmente colados e até conseguíamos dançar (mesmo que nenhum dos dois soubesse). E aquela barba? Ela me causavam uns arrepios delicioooosos (só de lembrar viajo no tempo!). Nossos beijos eram intermináveis (não gosto de beijos curtos, me parecem sem entrega alguma, gosto de beijos de verdade, intensos. E pelo que vi, ele também).
Mesmo adorando beijos assim quanto tentava me afastar, ora para provocar, ora para respirar, ele simplesmente não soltava! E eu, com minha flexibilidade, me afastava o quanto podia, quase chegando ao chão. Isso chamou muita atenção dos que estavam perto. Em outra época eu certamente odiaria ser o foco de tantos holofotes mas, naquele momento eu estava sendo feliz e não me importei com as opiniões e olhares atravessados, nem na hora, nem depois... nem mesmo agora para ser franca.
Odeio descrever os beijos mas o dele merece ser analisado: era intenso, muito forte (sério, fiquei até com alguns hematomas nos lábios), tinha uma ótima pegada e mesclava entre o suave também. Por vezes me beijou com carinho o rosto e em seguida descia pro pescoço, me deixando (obviamente) maluca. Sem contar que pegava meu cabelo a partir da nuca de um jeito que me fazia perder levemente os sentidos (por sorte ele estava me segurando, eu poderia ter bambeado um pouco mais).
Ouvir Gonzaga na voz grave e desafinada dele era uma delicia, uma delicia engraçada, concordo, mas ainda era uma delícia. E riamos juntos quando ele errava a letra, logo em seguida eu cantava junto e não demorava para o próximo beijo demorado começar.
Mas não pense que só beijamos, rimos e dançamos. Ainda conseguimos conversar um pouco, mesmo com toda a evidente atração física. Entre um beijo com mordida e outro descobri algumas coisas sobre ele e vice-versa. Não sei durante quantas músicas ficamos juntos mas foram muitas que pareceram voar.
Eu nunca tinha tido uma ligação tão rápida e intensa (porém efêmera) assim. Nem mesmo tinha encontrado um cara tão alto que me interessasse, muito menos de barba.
Infelizmente não o encontrei mais desde então, porém não hesitaria em repetir se tivesse oportunidade, mesmo que nossas colunas tenham nos lembrado dos nossos esforços no dia seguinte, tenho certeza que valeu. Pelo menos para mim, né?! Pouco importa o que disseram ou pensaram, quando lembro dele só consigo sorrir, tem coisa melhor que isso?

Um beijo demorado para você, moço alto, bonito e desafinado!

"Porém se a gente vive a sonhar
Com alguém que se deseja rever
Saudade, entonce, aí é ruim
Eu tiro isso por mim (...)
Ai quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz roer
E amarga qui nem jiló
Mas ninguém pode dizer
Que me viu triste a chorar
Saudade, o meu remédio é cantar"
Qui nem jiló - Luiz Gonzaga