quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Aniversário


Há alguns anos perdi a graça  com aniversários. Na infância era só festa: contava os dias com muita antecedência e, um dia antes, mal conseguia  dormir, esperando a festa e os mimos do dia seguinte. Hoje a data  perdeu a magia. Uma pena, talvez.
Hoje sinto que não passa de um dia normal. Ultimamente tenho vontade de passar só, sendo um dia apenas para reflexões de tudo que fiz até aquele dia e tudo que pretendo fazer no novo ciclo que se inicia. Mas nem sempre consigo o dia todo só pra mim. Graças a Deus tenho pessoas que me amam muito e sempre arranjam um jeito de estar perto nessa data e fazer algo que me tire sorrisos e algumas lágrimas de alegria. Como não amar ser amada? Ai eu percebo que o que gosto dos aniversários não são as datas, mas a união e comemoração. Comemorar a vida não precisa de uma única data no ano. Não precisamos disso para juntarmos amigos e celebramos. Fico feliz nos aniversários dos meus amigos, dos parentes, nos dias aleatórios que nos juntamos para cantar ou conversar na calçada. Não importa. Os bons momentos não necessitam de data e hora marcada para acontecer, por isso não ligo para aniversários. Feliz aniversário para mim.

Outra Eu

Pensando na pessoa que iniciou o ano de 2014, vejo que hoje sou outra. Claro que certas coisas não mudam, mas consigo ver o quanto amadureci, o quanto cresci profissionalmente e como pessoa. Conheci pessoas, lugares, reconheci amigos, me afastei de outros e vi que isso me fez bem e estou feliz com a nova-eu.
A nova-eu gosta de conversar e falar o que pensa e o que sente, coisa que a antiga eu não fazia nunca, nem com os amigos. A nova gosta de cantar e nem liga quem tá olhando e ouvindo, brinca com cachorros alheios, faz amigos facilmente e sai sem se preocupar com companhia. A nova-eu ama seu cabelo naturalmente do jeito que é e gosta de fazer atividades físicas. A nova está pronta para amar e abrindo as portas, dando chances para esse sentimento louco. Não tem mágoas, mas também não é mais besta e nem leva desaforo para casa: bateu, levou. Ela rir sem se importar quem ouvirá suas gargalhadas altas, não tem medo de gritar sua felicidade.

Bem vinda nova-eu e faça morada fixa em mim.

Criação

Sempre gostei de entender o processo de criação de tudo. Quando era pequena e via meu pai consertando algo perguntava qual era o processo correto para aquilo funcionar e ficava esperando isso acontecer. Sempre que provo um doce bom na casa de alguém me pergunto como se faz.
Quando ouço uma nova música ou álbum de algum músico que gosto, fico imaginando como ele chegou àquelas frases, àquela melodia. O que se passava em sua vida? Onde ele estava? Será que ele se concentrou até chegar ali ou a ideia veio de repente? Amo quando meus músicos preferidos se aventuram a escrever blogs ou livros e, no meio de seus textos, das crônicas, consigo ver partes das músicas que me embalam. É tão fascinante quanto era ver meu pai consertar eletrônicos na minha infância e ver a máquina funcionar. É ver do lado de dentro, o lado de lá, compreender o processo de criação. 

Há vaga

Comecei o ano abrindo vaga para moradia. O local é simples, está um pouco deteriorado também, mas nada que uma reforma e uma redecoração não resolva. O aluguel pode ser pago de forma suave e sem pressa para um bom inquilino (beijos e abraços serão bem vindos como calção), Não será aceito baderneiro ou aqueles que de alguma forma, danifiquem o local. Trata-se de uma casa especial, que tem vida, portanto, precisa de carinho e bom tratamento, Aos bons inquilinos esta casa será um verdadeiro abrigo, o local mais seguro do mundo, que o protegerá dos sentimentos ruins e possíveis problemas ficarão do outro lado da porta. Uma casa para a vida roda, um coração pronto (enfim!) para ser habitado pelo amor.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Sobre um modelo de amor ao próximo

"Cumpriu sua sentença. 
Encontrou-se com o 
único mal irremediável, 
aquilo que é a marca do nosso 
estranho destino sobre a terra, 
aquele fato sem explicação 
que iguala tudo o que é vivo 
num só rebanho de condenados, 
porque tudo o que é vivo, 
morre."

(Ariano Suassuna em O Auto da Compadecida)

Ontem a senhora Morte soprou aqui perto de novo. Dessa vez levou um querido amigo, que todos os dias me recepcionava com um sorriso amável, perguntando por minha terrinha e fazendo piadas (a respeito da minha distração, principalmente). Apesar da sensação de ter sido tudo rápido demais, percebo, pensando bem, que ela já o rondava, sutilmente em suas longas vestias de cetim. Há um par de meses ele estava um pouco mais calado e ausente. Algo estava errado. Não demorou para Ela abraçá-lo e afastá-lo do nosso convívio.  Ontem ela deu-lhe o Beijo, aquele que a gente espera que não ganhemos tão cedo. O dele veio cedo demais. 
No entanto acredito (e espero profundamente) que Ela tenha sido gentil e o levado pela mão, como se leva um velho e querido amigo. Espero que ela tenha vestido sua melhor túnica, que o Beijo tenha sido suave e sua viagem tranquila para o lugar que ele merece estar. Não sei como é do outro lado, mas imagino que seja num lugar tranquilo com música boa e felicidade perto de outras boas pessoas que se foram. Ele, com toda sua gentiliza, bom coração e amor incondicional ao próximo, deve estar em um lugar assim. Se formos realmente julgados e recompensados pelo bem que fizemos em vida ele, ah, meu amigo, você deve estar bem e feliz, seja lá onde for. Apesar da tristeza que me consome ao escrever essas linhas, sinto um tantinho de alívio, por saber que seu sofrimento foi cessado, por ele está finalmente livre da doença que o limitou e o afastou de nós. Agora está em paz. Livre.
Não consigo imaginar qual será a sensação de voltar àquele lugar e não te encontrar lá com aquele sorriso, as piadas e os braços abertos perguntando como foram as férias. Não consigo imaginar como aquele lugar será sem você. Acredito que a sensação de vazio vai tomar aquele lugar e todos que passam por ali, vão perceber, lembrar de você e sentir sua falta. Nessa hora eu farei uma pequena oração e talvez acabe chorando.
Nosso tempo aqui é marcado com precisão e a cada tic-tac estamos mais perto do fim que pode ser daqui a cinquenta anos ou daqui a cinco minutos. Não dá pra saber quando será o último tchau ou em qual esquina vamos esbarrar com essa Senhora que nos leva sem qualquer chance de despedida. Talvez isso seja o que dói mais para quem fica.
Mas meu querido amigo, vá em paz e faça muitas piadas e amigos por ai. Obrigada por tudo que você fez aqui na Terra, por mim e por todo mundo ao seu redor, por seu carinho e amizade incondicional. Obrigada por ser como um pai pra tanta gente que conviveu com você. Obrigada Deus por nos emprestar um ser tão bom, para nos ensinar tanto a respeito da vida, do amor ao próximo, da entrega, do bem.

"Vai com os anjos vai em paz. Era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade. Até a próxima vez..." (Legião Urbana)



Palavras Repetidas

Outra noite, encontrei seus pais aqui perto de casa. De cara tomei um susto, afinal, tivemos alguns desentendimentos e falamos (e ouvimos) coisas desagradáveis. Todos saímos magoados daquela situação de alguns anos atrás. Conversa vai, conversa vem, fiquei sabendo (sem querer) que você não gosta mais da nossa terrinha, que só vem  "nas últimas". Eu já imaginava, mas fiquei meio triste quando sua mãe disse... sei lá, tudo começou aqui, nos divertimos tantos por essas ruas!
Não bastou pensar em você no resto da noite, acabei sonhando contigo (isso precisa acabar logo. Um novo amor pra ontem, gente!). No sonho você chegava sorrateiro, como se nada tivesse acontecido mas dizia que lembrava mas só queria esquecer aquilo e começar de novo. Nos apresentávamos um ao outro como dois desconhecidos de fato e acabamos conversando muito, rindo e nos conhecendo de novo, afinal, muita coisa mudou em nossas vidas. No fim lembrávamos das nossas histórias de criança e das viagens em família. Era uma sensação tão boa te ter por perto, bem. Antes de tudo acontecer éramos amigos, confidentes. Acordei com uma sensação de vazio... É triste uma história como a nossa acabar assim. Sem telefone, sem redes sociais, sem notícias e desviando caminhos para não nos cruzarmos, :\