quinta-feira, 23 de julho de 2015


"Chegaste, e desde logo foi verão.
Teresa ainda não sabe se é um bom livro. Jamais saberá. Jamais terá critérios para avaliar aquilo que ela mesma escreve, Mas tampouco se deixará oscilar demais com o que os outros dirão. Isso porque suas próprias palavras ficam, para ela, num lugar um tanto quanto inacessível. Teresa dificilmente será uma boa leitora de Teresa."

Adriana Lisboa, em Um beijo de colombina

Traduzindo pensamentos soltos


Nestes dias tenho pensado muito a respeito da minha “solteirice crônica”, sabe como é, vejo o amigos casando, tendo seus filhos, romance nas novelas, filmes, livros... não que eu me sinta amarga por ser uma “4ever alone”, não é isso. Eu gosto da minha companhia, minhas músicas e pensamentos me fazem bem demais, só que as vezes faz falta sim alguém para rir junto, fazer alguns planos, curtir momentos à dois, essas coisas.
Entre um devaneio e outro me deparei com um pensamento solto que talvez faça sentido, talvez o que melhor responda essa solteirice até hoje. Cada vez que penso nessa teoria tenho mais certeza que está certa, e realmente quero acredita que sim. A teoria é: Não sou uma garota de paixões, sou de amores. Pronto, falei. Depois dessa nem adianta argumentar mais né, é oficial agora: sou uma romântica brega. É isso, tô leve.
Paixão é bom, aquele friozinho, a loucura do sentimento mas, eu gosto de "coisas concretas". Não quero uma paixão passageira, quero um amor que permaneça por um bom tempo e, como amores são raros, espero pacientemente. Um saco esperar, confesso, mas também não me animo para investir em uma relação que claramente não me levará a lugar algum; quero um amor que me tire os pés do chão e ao mesmo tempo me apare caso eu voe alto demais e caia.  Eu sei que muita gente espera a vida toda e nunca encontra, isso é realmente difícil, uma busca para a vida toda, o bilhete  de um milhão de euros (que vale mais que dólares), mas eu estou disposta a tentar, já tô nessa há um tempo, né, o que são mais alguns meses ou anos?!

Nota 1: E eu, com esse ar de cética, estou mais romântica do que as personagens do Nichollas Sparks. Deve ser esse clima romântico, de todo mundo encontrando pares (ainda que passageiros). Tô esperando o meu também.

(Nota 2: Môbem, vê se não demora muito mais, tá?!)


sábado, 11 de julho de 2015

Fotografia

O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia

As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar

Quando as sombras vão ficando compridas
Enchendo a casa de silêncio e preguiça
Nessas horas é que Deus deixa pistas
Pra eu ser feliz

Leoni

As cartas que eu não mando

(...) Faz tempo que eu me perdi de você
Guardo pra te dar
as cartas que eu não mando
Conto por contar
Eu deixo em algum canto

Leoni

Os caras e Eu

Nunca fui boa em flertes. Nos tempos de escola, vi vários amigos paquerando e desde ali já percebi que não possuía a arte do flerte. Acho que por isso mesmo "demorei" um pouco para começar a namorar e todos os caras da minha vida vinham do convívio, dos ciclos de amizades.
Não sei, até hoje, fazer jogos de sedução. Pra falar a verdade, sempre achei perigoso esse lance de brincar de amor, apesar de ser aparentemente fria, não gosto de brincar com sentimentos.
Não me envolvi com muitos caras na vida, certamente bem menos que várias meninas de 13 anos que vejo por ai. Tive envolvimentos físicos e (principalmente) emocionais, e cada um teve sua trilha sonora na minha vida: Legião Urbana, Seu Jorge, Cássia Eller, Dorgival Dantas (haja coração!) Leoni, Djavan, O Teatro Mágico, Asa de Águia, Caetano Veloso, Engenheiros do Hawaii... todos embalaram momentos e histórias. Nem todos chegaram a um envolvimento pleno, aliás, talvez apenas um, ou nenhum.
Com esses caras aprendi muito pois, como eram meus amigos, convivíamos sem expectativas um no outro e acabavam surgindo as semelhanças e afinidades; O interesse nunca era imediato, crescia o tempo e proporcionalmente á admiração, talvez por isso tenham sido tão marcantes: era mais que aparência, muito mais. Agora, pensando em todos eles, vejo que nenhum deles era do tipo modelo, do tipo de academia, não estavam nos padrões de beleza. Todos magricelos (exceto um, que era gordinho :D), a maioria branco como velas, fora as peculiaridades de cada um (escoliose, sorriso torto, extremamente alto...), o que me atraiu em cada um deles não foi o que eu via com os olhos, era o que eu sentia com eles, o que eu ouvia, eu gostei do espírito, da essência deles. Era algo forte, coisa de ligação de mentes, intenso.
Nunca consegui me ligar apenas pela capa, eu preciso saber do conteúdo e depois, quero saber o que os levou àquele estado. Toda pessoa é o resultado das situações que vivenciou e o que fez com elas. Eu, como uma pessoa analítica que sou, gosto de entender, compreender o processo me encanta muito mais que o resultado final. Antes de me apaixonar por esses caras eu os admirei pelo que eram. Pelo que seria e pelo que poderia ser e não foram. 
O primeiro, era autêntico, despojado e amigo de todos. Era um cara muito mais maduro que os 12 anos que tinha, o mais velho da turma. Apesar da vida confortável não foi fácil encarar o divórcio dos pais e se tornar o homem da casa aos 9, tendo ainda dois irmãos menores para "cuidar e proteger". Tinha um lindo sorriso metálico (quando ele tirou o aparelho ficou melhor ainda). Era louco por rock e foi graças a ele que conheci a Legião Urbana, minha banda preferida até hoje. A legião e as letras do Renato me ensinaram muito sobre pensamento crítico e isso me ajudou muito a encarar a adolescência.
Depois do cara mais velho que não me deu bola, a história se inverteu: um cara mais novo surgiu. Doido por animais e calmaria, aprendi tanto sobre cuidado ao próximo! Aprendi como um carinho as vezes cai bem (Sábio Caetano!). Ele chegava assim, do nada, me abraçando, fazendo cafuné, massagem (que mãos!). Era um rapaz lindo, de coração tão puro e com um enorme abraço de urso! Vivia me mandando músicas e pedindo indicação de livros que, surpreendentemente, lia mesmo e vinha conversar sobre eles depois. Passávamos tardes e tardes juntos na janela do meu quarto, em silêncio, apreciando o sol se pôr.
Em paralelo a este, surgiu um mais velho que eu. Ele era muito tímido e, como eu era também, mal nos olhávamos. Era estranho, mas só depois que me mudei criamos vínculos, a distância mesmo, e descobrimos tantas afinidades. Me acordava com mensagens e trechos de músicas (iluminavam meus dias). Passamos longas madrugadas conversando sobre tudo e nada, rindo e discutindo também. Este eu fiz sofrer. Nunca foi minha intenção, sempre fui sincera quanto aos meus sentimentos, deveria ter me afastado mas já tinha tanto carinho por ele. Por fim ele se deu um tempo para organizar os sentimentos e ainda somos grandes amigos, conversamos sobre absolutamente tudo e mesmo assim, sempre há algo novo para aprender com ele e sobre ele.
Este outro rapaz, surgiu quando nem sabíamos andar, e esteve sempre ali, pertinho, sempre dividindo seus brinquedos e lanche, até que quando crescemos veio dividir comigo beijos e segredos. Eramos tão amigos que podíamos completar qualquer história que o outro começasse. Tínhamos músicas, viagens, sonhos e festas juntos (tentou me ensinar a dançar, sem muito sucesso, porém nos aproveitamos das "aulas"). Aprendi muito, ele me abriu um mundo de possibilidades quando entrou dessa outra forma em minha vida. Uma pena estarmos em momentos diferentes da vida quando esse sentimento surgiu, poderíamos ter sido um casal bem bacana.
Até agora, depois dele "os outros são os outros e só". Ainda assim, com estes aprendi mais sobre mim. Me entendi mais, foram experiências as vezes nem tão agradáveis, mas que sem elas eu não teria tantas certezas sobre o que eu quero para mim, para minha vida, e o que eu espero ou não do cara que ficará no meu lado quando nos encontrarmos pela vida.
Agora estou numa fase de sonhos e dúvidas. Sonhar com alguém aparentemente tão "sua pessoa" e tão perto é meio perturbador, até onde a realidade se confunde com o sonho? Até onde pode-se confiar nos "sinais"?
Sou muito feliz pelos caras que surgiram na minha vida e contribuíram para a formação da mulher que sou hoje, sinto que estou cada vez mais pronta para viver uma histórica com o tal cara certo, O cara, se é que me entendem.

"Me espera amor que estou chegando
Depois do inverno é a vida em cores
Espera amor nossa temporada das flores"
Temporada das flores - Leoni

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Deixa o beijo durar seu tempo

Estava em um sono profundo quando aquele reggae invadiu meu sonho, foi ficando alto, alto, cada vez mais alto, enchendo todo o quarto, até que me acordou. Era o toque de chamadas do meu celular, mas ainda estava escuro, era madrugada. O visor mostrava o nome de quem estava do outro lado. De todas as pessoas do mundo não esperava uma ligação dele. Uma hora dessas. Será que estava tudo bem?
- Alô, aconteceu alguma coisa? Você está bem? - Me adiantei.
- Oi, estou bem. Preciso falar com você, pessoalmente. Posso ir aí?
- Agora? É sério isso? São... - tentei olhar a hora no visor do celular, fazendo careta para proteger meus olhos devido a claridade advinda da tela em contraste  com o breu do meu quarto - ...são 4h35! Tem certeza que não pode esperar até um horário, convencional, tipo depois das 9h?
- Por favor, é importante. Além do mais, você já acordou mesmo, eu sei que não conseguirá dormir tão cedo. - Droga, ele me conhece! 
- tá, tá, venha.
Isso sim era estranho. Ele? Nem éramos tão amigos assim. Será que ele bebeu? Ou era uma brincadeira?
Mandei várias mensagens, sem sucesso. Ele já estava dirigindo à caminho pelo visto. 
Levantei, vesti uma roupa decente, tirei as meias (que foi? faz frio em junho!) e resolvi passar um café, afinal, não dá para ter uma conversa uma hora dessas sem café, né?!
Nem bem coloquei a água no fogo, ele manda uma mensagem. "Cheguei. Vem abrir o portão." Desci.
O semblante dele era de alguém abatido e ansioso. Parecia ter passado a noite acordado. O cabelo estava bagunçado, a camisa avessada, parecendo que saiu sem se importar com detalhes, o que era algo quase preocupante, se consideramos que ele é um perfeccionista nato. Ele não é um metrossexual mas gosta de vestir-se bem e o cabelo está sempre penteado. Carrega sempre consigo uma correntinha de prata, presente da sua avó,  (e lá está ela!). Ele é um pouco mais alto que eu, de modo que preciso me por na ponta dos pés para abraçá-lo rapidamente. Antes de entrarmos pude ver que estava tudo bem, sem fraturas, sem hemorragia ou sinais de embriaguez. Ainda assim, algo não fazia sentido. 
Já dentro do apartamento, ele estava inquieto, mexendo as mãos incessantemente. Enquanto o café não estava pronto, ofereci-lhe um copo com água. 
- Eu não sei como dizer isso, então... lá vai: Tenho pensado muito em você, e acho que estou apaixonado. 
Ele jogou assim, enquanto eu trazia o copo. Sentei-me na cadeira mais próxima e tomei a água que era para ele. Oi? Como assim? Que zueira é essa tão cedo? Ok, tudo bem que tínhamos várias afinidades, mas paixão? Não sei quanto tempo fiquei parada olhando para ele, mas pareceu muito porque ele ficou ainda mais inquieto e eu já havia bebido toda a água. Senti-me obrigada a falar algo.
- Então... Desde quando?
Ele deu um suspiro aliviado: - Bom, eu percebi isso há um tempo, depois que retornamos o contato foi ainda mais evidente mas, foi quando nos afastamos novamente que percebi saudade. Ai te liguei e cá estou.
Eu não podia negar uma felicidade crescente. Desde que nos conhecemos percebi nossas afinidades, e elas não paravam de surgir: Músicas, valores, costumes, religião, opiniões... Era absurdamente impossível haver alguém tão parecido comigo que não fosse o espelho (mas ai é aparência física e nisso somos indiscutivelmente bem diferentes). Imaginei se algum dia eu teria coragem de falar algo ou se ele perceberia (ponto para ele). Voltei a falar, quase sem pensar:
- E se eu disser que também já havia notado isso tudo e que acho que poderíamos combinar, seria algo muito clichê e previsível para o momento?
Os olhos dele brilharam imediatamente com isso e ele emendou:
- Seria, mas honestamente, não me importo, e até gosto. Você quer tentar? - Fingi ponderar a pergunta por alguns segundos.
- Sim, eu quero
Ele abriu lentamente aquele sorriso grande e lindo de criança vendo presentes de natal, não aguento aquele sorriso! Ri junto e quando vi estávamos nos beijando no meio da sala pequena e silenciosa. 
Olhando assim de longe até que ficávamos bem juntos: ele relativamente alto, cabelos escuros e bagunçados e com a pele levemente mais clara que a minha. Um cara normal por fora; eu, uma pequena-grande mulher, com cachos soltos (que ele adora que eu sei), pele escura e óculos fundo de garrafa. E ali, no meio da sala percebi que a felicidade nos caia bem.
Não sei quanto tempo durou aquele (fantástico) beijo. Já dizia Saulo "Deixa o beijo durar seu tempo" e nós deixamos de bom grado. "Acordamos" com um cheiro esquisito vindo da cozinha... Ai meu Deus, o café!
Rimos mais um pouco e desistimos do café, eu nem queria café mesmo. Quem precisa de café? ele me olhou e disse: Se o primeiro beijo foi assim, não posso esperar pelos próximos!
Quando nos aproximamos, ouvi um bip-bip incessante. Ele sumiu, o café sumiu e lá estava eu deitada na minha cama. Conferi o celular: 7H e nenhuma chamada, nenhuma mensagem, nada que concretizasse que aquilo foi real. Nada. No fim das contas foi apenas mais uma das cruéis peças que minha mente me prega. Poxa, bem que poderia pegar mais leve da próxima vez! Agora estou sonhando acordada, imaginando as  infinitas possibilidades de continuação para aquele sonho, pensando seriamente nisso de declaração, se realmente combinaríamos e se o nosso beijo seria tão bom quanto o que eu provei. 
Será?