quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Estiagem

Faz mais tempo do que eu gostaria de admitir, eu sei.
É amargo dizer mas, após os últimos acontecimentos, achei que escrever seria uma das coisas que amo e que eu não faria mais. Meu lado criativo se fechou e a fonte secou, mesmo tendo muito o que gritar, não conseguia. Nem torto, nem nada, nada mais saia de mim. Era triste sentir tudo acumulando sem um escape decente, com isso eu tive alguns surtos de tristeza profunda, euforia, muitas ideias soltas de uma vez só e nada de constância. Não me fazia bem, eu sentia e doía muito não ter a tão fiel companhia das palavras, minhas ou de outros autores que eu gostava de ler.
As vezes eu achava que me faltava fé, que as coisas precisavam de tempo para se ajustar e eu era impaciente, mas ai eu lembrava que já passei por tantas outras situações, piores até, e sempre pude contar com um bom livro, caderno e caneta. Outras vezes pensei que exigi muito de mim mesma ao dedicar por tanto tempo seguido à produção científica. Enfim, não saberei dizer tão cedo onde esta o X da questão, o fato é: nos últimos dias coisas que eram comuns em outros tempos ressurgiram, trazendo a sensação de algo inédito e me enchendo de uma esperança que eu jã nem lembrava. 
Eu nunca deixei de amar livros e por isso mesmo sempre passeava nas livrarias, admirava nas prateleiras alguns títulos e levava para casa na esperança de despertar a leitura de novo. Isso me rendeu uma estante cheia de livros não lidos em casa. Na última semana, no entanto, despretensiosamente foi avassalada por um livro nas primeiras linhas. Não me contive e levei para casa, em menos de duas horas, devorei. Devorei como a muito não fazia, como se estivesse num deserto e tivesse encontrado um incrível oásis. Era como se tivesse faminta por cada verbo, cada oração, cada jogo de palavras. E estava mesmo, mas só me dei conta do tamanho quando terminei o livro e vi que não lembrava da última vez que tinha lido um livro de uma vez e o quanto eu valorizava leituras instigantes, que me prendiam e me davam muitas ideias e mostravam que eu poderia pesquisar mais sobre alguns temas que traziam. 
Eu conhecia aquela onda quente. Explosão. Processo criativo.
Queria gritar pro mundo todo: Senhoras e senhores, voltei!, mas não era bem assim, não podia me antecipar dessa forma, afinal poderia ser só euforia. 
Peguei aquele livro que desde o ano passado havia iniciado leitura e não terminara. Não era um livro ruim: história envolvente, personagens cativantes, temática central atrativa, descrições detalhadas. Era tudo que eu apreciava em um livro. Ele era bom e eu que não estava tão bem assim. Aos poucos fui lendo e esta noite terminei. Nas últimas páginas eu estava tão emocionada por enfim estar terminando que chorei. Já chorei com outros livros mas dessa vez era diferente, não era pela história mas sim por está conseguindo virar a página, literalmente, desse meu período que apelidei "carinhosamente" de  Idade Média. Muitas coisas ficaram pelo caminho do ano passado para cá, muitas coisas inacabadas, esse livro era uma delas, a representação da minha leitura inexistente. O fim de um dos meus hobbies, uma das minhas válvulas de escape inoperante e aparentemente obsoleta, uma lembrança boa. Concluir esta leitura foi importante e marcante para mim, após tanto tempo, eu precisava disso. Chorei com o coração aquecido, por sentir que aos poucos as coisas vão se ajustando, um passinho por vez, sem afobação. Esse texto veio junto com o sentimento que me encheu, do ser capaz de. Capaz de terminar, capaz de escrever. Capaz. 
Meu bem e amigas, obrigada por sempre me incentivarem mesmo que eu resmungasse que não podia mais. Obrigada por acreditarem mais em mim do que eu mesma. Obrigada por dividirem a fé de vocês comigo quando estou sem.

Esse provavelmente não é o meu melhor texto, mas certamente é um dos importantes. Marca o fim de uma estiagem que eu nunca tinha passado no quesito Escrever. Vou chover ainda, preparar essa terra com paciência e só então florir. Com calma, em paz.