segunda-feira, 25 de maio de 2020

O que eu quero antes dos 30 - 2 anos depois

Há pouco mais de 2 anos eu e uma amiga escrevemos o que desejávamos ter ou fazer na vida quando chegássemos a casa dos 30 anos. Pois bem, hoje estamos na casa dos 27 e, revendo a lista vi que muita coisa mudou, muitas coisas não realizei e outras não são mais prioridades. Fiquei pensando como as coisas mudam e a gente ainda assim tenta planejar e com prazo de realização. A realização pode vir de imediato ou tardiamente, agora acredito que tudo esta de acordo não com nosso pensar mas com a intensidade de nossa fé e perseverança em vários aspectos além do simples querer.
Diante de tudo isso fiz uma nova lista, dessa vez sem prazo e mais realistas (suponho)
Vou deixar registrado aqui para reler futuramente:

01 - Confiar cada dia mais nos planos de Deus
02 - Conseguir pagar minhas contas sem sofrimento
03 - Me organizar para ter lazer em doses necessárias para os dias e semanas
04 - Fazer uma boa viagem anual
05 - Abraçar mais e sempre
06 - Casar e conviver de forma harmônica com nossas diferenças e desafios
07 - Apoiá-lo e encontrar apoio nele
08 - Manter minhas amizades sempre fortes
09 - Está sempre bem para ajudar os outros, mas ter contar com quem contar quando não estiver bem também
10 - Pensar em Iniciar um mestrado
11 - Encontrar na família muito mais harmonia que desavenças 
12 -Trabalhar para ter minha casa cada vez mais aconchegante
13 - Estudar mais e sempre aquilo que gosto e acredito
14 - Escrever mais e colocar isso como um exercício diário, para quem sabe algum dia, fazer um livro

Pensei em mais itens mais seria redundante, tudo em essência esta ai. É  fixo? Não, nunca é.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Caminho das pedras

- Dandara! 
Estava distraída lendo sob uma sombra quando tomou um susto com alguém gritando seu nome. Soou estanho porque geralmente a chamam pro Dan ou algum outro apelido carinhoso. Passava das 15h, uma hora de atraso e ela já começava a sentir sede, lembrando que esqueceu sua garrafa inseparável. Sua cabeça estava longe. O chamado era de seu namorado e a mãe dele que já haviam chegado, assim como o ônibus que precisavam pegar. Fechou o livro apressada e correu para subir no coletivo o qual estava um pouco cheio. Apressou-se a sentar no final do ônibus em um dos poucos assentos vagos, deixando os outros dois companheiros de viagem mais à frente. 
Abriu o livro mas permitiu-se vagar em pensamentos. 
Voltou à noite anterior, a discussão, os motivos e finalmente seu lugar ali naquele ônibus. Não acreditava que estava prestes a fazer isso, justamente algo que sempre disse que não faria pelo desconforto que a ideia lhe causara. Na noite anterior mal dormiu decidindo se iria mesmo aceitar convite tão sem jeito quanto esse. Acordou com enxaqueca, que a muito não tinha, e com a garganta irritada (somatização, querida? Acho que sim). De todo modo trabalhou, fez o que tinha que fazer e agora estava ali, sem jeito. 
Ainda assim pensava se deveria mesmo ir, mesmo estando no ônibus era não era obrigada a seguir, certo? Lembrou da conversa com sua melhor amiga, da conversa cautelosa porém negativa com sua mãe e disse que iria sim seguir, e só então decidiria se isso é aceitável ou se será a única vez. Lembrou de seu irmão que sempre precisava sentir na pele quando tinha uma decisão importante a tomar, riu leve com a lembrança e notou que ali estava ela seguindo para sua decisão. Tirou um pouco os olhos do livro e observou seu reflexo no vidro da janela: cabelo armado com cachos modelados e curtos, entregando que lavou as madeixas pela manhã, óculos escuro e batom cor de vinho numa boca pequena e desenhada pela pintura. Se sua mãe a visse faria piada com o biquinho instalado ali, entregando que estava irritada, desde criança nunca soube disfarçar suas expressões faciais.
O namorado se aproximou cauteloso, como se conseguisse ler os pensamentos dela e perguntou se estava tudo bem. O olhar lançado não condizia com as palavras - "claro, tudo bem" - que saíram de sua boca e ambos sabiam que não estava nada bem.
O rosto dele tinha uma barba por fazer, camisa vermelha e um olhar preocupado, estava e conflito: Queria ter aquela mulher com ele, a apoiando enfrentando o desconforto que ele também sente com toda a situação não planejada; ao mesmo tempo era consciente que ela possivelmente não aceitaria viver assim, pelo rosto dela, ele temia perdê-la em breve e não sabia o que fazer... Sentia-se triste também com a resistência dela e a expressão de poucos amigos por esta indo com ele e sua mãe. Quantos sentimentos cabem simultaneamente num olhar?
A viagem foi mais rápida do que o esperado, ao descerem ele foi relatando os pontos de referência e ensinando um caminho que ela pouco se importava em aprender. Logo ela se viu em frente a casa da ex-esposa de seu namorado e a garotinha loira de vestido rosa sai correndo na direção deles.
-Papai!

Continua...

Cansada

Tá vendo essa sombra aí? É uma pessoa. Passou o dia, passa os dias assim, ora dormindo, ora olhando para o nada. Lhe faltam forças até para se alimentar - pelo ruído, fazem algumas horas que não come. Ou muitas... ela mesma nem expressa mais incômodo com a dor da fome. 
Paciência, virtude que sempre se orgulhou se possuir, já nem existe mais e ela questiona o que mais deixou de ser ou ter nos últimos tempo. Quem estaria se tornando? Quanto as pessoas, lugares e coisas que não poder ter agora são essenciais para a essência dela? 
Mas como pode estar assim, tendo tudo: teto, alimento, companhia, livros se quiser ler, celular com internet para papear... verdade, na verdade nem ela mesma sabe o que lhe falta além de uma motivação. Sente-se desanimada para qualquer coisa que exija uma energia que ela acha não ter mais. Sente que não pode fazer planos pois o futuro é cada vez mais incerto, sente constantemente raiva por injustiças crescentes, incontáveis incoerências e a sensação de estar presa a faz sentir como um animal "murfino" recém enjaulado.
Ela sabe, dentre todas as pessoas próximas ela é a que mais sabe sobre o que está acontecendo com ela mesma, o porquê e o que pode lhe causar a curto, médio e longo prazo, o que pode lhe causar biologicamente, energeticamente, fisicamente, mentalmente e socialmente. Ela sabe de tudo e segue sem força. A ignorância as vezes é uma benção... talvez se não soubesse baobás incomodasse tanto ou talvez teria mudado os rumos antes. 
Agora ela está ali, olhando para a luz do poste lá fora, refletida da parede do quarto, vê a sombra dos pingos da chuva na janela e se questiona porque não faz outra coisa, porque não vai estudar, porque não ler um livro, porque não fala, porque não usa uma das suas terapias, porque simplesmente não escreve o que sente.
O estômago fala, grita na verdade, e ela... olha para o nada, questionando quando os dias melhores virão.