sexta-feira, 15 de maio de 2020

Cansada

Tá vendo essa sombra aí? É uma pessoa. Passou o dia, passa os dias assim, ora dormindo, ora olhando para o nada. Lhe faltam forças até para se alimentar - pelo ruído, fazem algumas horas que não come. Ou muitas... ela mesma nem expressa mais incômodo com a dor da fome. 
Paciência, virtude que sempre se orgulhou se possuir, já nem existe mais e ela questiona o que mais deixou de ser ou ter nos últimos tempo. Quem estaria se tornando? Quanto as pessoas, lugares e coisas que não poder ter agora são essenciais para a essência dela? 
Mas como pode estar assim, tendo tudo: teto, alimento, companhia, livros se quiser ler, celular com internet para papear... verdade, na verdade nem ela mesma sabe o que lhe falta além de uma motivação. Sente-se desanimada para qualquer coisa que exija uma energia que ela acha não ter mais. Sente que não pode fazer planos pois o futuro é cada vez mais incerto, sente constantemente raiva por injustiças crescentes, incontáveis incoerências e a sensação de estar presa a faz sentir como um animal "murfino" recém enjaulado.
Ela sabe, dentre todas as pessoas próximas ela é a que mais sabe sobre o que está acontecendo com ela mesma, o porquê e o que pode lhe causar a curto, médio e longo prazo, o que pode lhe causar biologicamente, energeticamente, fisicamente, mentalmente e socialmente. Ela sabe de tudo e segue sem força. A ignorância as vezes é uma benção... talvez se não soubesse baobás incomodasse tanto ou talvez teria mudado os rumos antes. 
Agora ela está ali, olhando para a luz do poste lá fora, refletida da parede do quarto, vê a sombra dos pingos da chuva na janela e se questiona porque não faz outra coisa, porque não vai estudar, porque não ler um livro, porque não fala, porque não usa uma das suas terapias, porque simplesmente não escreve o que sente.
O estômago fala, grita na verdade, e ela... olha para o nada, questionando quando os dias melhores virão.

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