quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Tiro no pé

  Bom, sair de casa foi uma escolha minha. Foi difícil, mas era necessário para cumprir meus objetivos. Tive o consentimento de Deus e o apoio de muitos amigos e de uma família em especial. Essa família se ofereceu de bom grado para ser minha pelo tempo que fosse preciso. Prontamente aceitei, convenci minha mãe que era o melhor e assim foi feito.
  Eles foram fantásticos, me ensinaram coisas básicas, mas bem úteis para se morar nessa cidade. Apresentaram-me amigos, me convidaram pra sair, mas nada importava quando chegava à sexta-feira. Eu ficava louca pra voltar pro meu mundinho, voltar pra casa, rever minha família, meus amigos, meu quarto, minha janela... Tudo que eu amo! Em casa eu ando como quero, saio quando bem entendo, canto na altura que bem entender. Enfim, não há nada como sua casa. Nas férias, como era óbvio, fui para casa. Lá pensei muito a respeito de muita coisa do semestre anterior e comecei a refletir sobre minha estadia na casa dessa família. Imaginei os está incomodando. Ora, alguém como eu chata, calada, meio nerd, que não sai de casa só pode ser incômoda. Se fosse em minha casa eu já estaria puta, confesso.
   Fim das férias eu tinha que voltar, mas esse pensamento de está sendo incômoda não saiu de mim. Odeio importunar as pessoas (ainda mais elas que tanto me ajudaram). Foi quando eu tive a “brilhante” ideia de tentar não incomodar. “Como?”
   Comecei a tentar passar mensagens do tipo “não se preocupe comigo, estou bem”, “eu me viro bem só”, “faz de conta que eu não existo” e passei a agir assim. Eu saia mais cedo, chegava tarde e comia fora. Eu dormia cedo e nada me segurava aqui na sexta. Eu quase não os via e não sabia de nada que se passava com eles e vice-versa. Era bem difícil mas  achei que assim importunaria menos. 
    Eu achava que os incomodava e eles pareceram aceitar bem essa minha mudança tão repentina, parecia não ligar, então continuei. Grande engano. Vendo que eles estavam aceitando bem, e que eu estava realmente incomodando, resolvi me organizar para ir embora. Isso mesmo, já havia comprado móveis, já tinha encontrado um cantinho para alugar. Eu não queria importuná-los mais ainda com minha péssima presença.
    Não demorou muito para as coisas saírem dos eixos e o mundo desabar na minha cabeça. Além de incomodados, sentiram-se ofendidos. Acharam que eu não queria a companhia deles e não queriam invadir "meu espaço". Sentiram-se magoados, traídos... enfim, tudo saiu completamente diferente do que o que eu havia esperado e foi totalmente mal interpretada (pra variar né?!). Não querendo incomodar, incomodei muito mais. Não planejei dessa forma.  
    Inventaram uma reunião. Nela falaram tudo que estava engasgado em suas gargantas e eu só consegui ouvir calada. Falaram coisas antigas, falaram de sentimentalismo. Uma pessoa disse: "Já passamos tantas coisas juntos, natais, anos-novo, carnavais, viajamos. Acho que essas coisas só os melhores amigos fazem". Isso me acertou como um tiro no coração. Me senti um monstro depois disso, mas conversando com uma amiga depois pude refletir que o que isso não é coisa de melhores amigos, afinal, é bem fácil esta junto em momentos tão agradáveis como festejos. Amigo mesmo, de verdade, são as pessoas que me abraçam quando não resisto as lágrimas e que falam o que acham que preciso ouvir, independente do que eu acharei de seu discurso. 
    Ouvi o que todos tinha a dizer, cinco pessoas magoadas e eu ouvi tudo calada. Não chorei, não me defendi, nada. Vi que tudo foi uma falha de comunicação em proporções indescritíveis e, para não culpar pessoas que amo, preferi ficar com a velha culpa.
    Magoei pessoas, as fiz chorar, pedi desculpas, mas não foi suficiente. Hoje todos nós fingimos que nada aconteceu e estar tudo bem, mas sabemos que não está. As coisas estão a base de educação e respeito, não há mais amizade e isso está me deixando louca. Estou sozinha aqui e fui a única que não se pronunciou. Ainda. 
     Preciso falar, mas não sei como. Preciso dizer que não sou tão errada assim, e também me magoei por não falarem comigo quando necessário. "Seu espaço", dane-se meu espaço! Vim morar aqui e preciso me consertar quando necessário, estou me adaptando (ou, pelo menos tentando). Me magoei por não me contarem das grandes conquistas deles nesse segundo semestre. Essa conversa, acredito, não ajudou em nada. Nada melhorou, nada piorou, está tudo na mesma. Foi um belo tiro no pé: só doeu, só causou sofrimento e não matou.
     Mas o que isso importa agora né?! Já tá tudo tão estranho, tão perdido, não sei se conseguirei fazer as coisas melhorarem. Quando comparo as coisas de um ano atrás e hoje, me bate um aperto no peito. 

Como as coisas mudaram tanto assim? 
Como me perdi tanto de mim? 
Quando modifiquei meu ser a tal ponto?

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