Passei por ele com passo todas as manhãs, porém fui mais polida e me restringi ao "bom-dia" seguido de "precisamos conversar mais tarde". Ele já sabia do que se tratava e já imaginava o que ouviria.
Passei o dia ensaiando o que diria, mudando palavras, entonação e nada ficava bom o suficiente. No momento oportuno, já não sabia nem por onde começar. Então guardei meu coração no bolso, apertei as mãos (antigo hábito para disfarçar o tremor incontrolável) e fui.
Sentei, olhei para ele e comecei da melhor forma que consegui.
- Eu nunca esperei ter uma conversa como essa com você. Com ninguém, na verdade. O que aconteceu ontem foi um erro, um absurdo Somos amigos há muito tempo, ou pelo menos eu achava que éramos.
Quando foi que você confundiu tudo? Passei a noite me perguntando se eu te fiz entender errado ou se você se confundiu sozinho. Sabe, eu achava nossa amizade tão bonita, pura e simples mas, só eu via as coisas assim, né?! Você desrespeitou sua família, meu namoro, nossa 'amizade', você me desrespeitou.
Se eu gostei? Não, não gostei de me sentir pressionada e forçada. Não me agradar ter meu espaço invadindo de forma tão rude. Você me magoou e é óbvio que vou ficar com era cara de paisagem para você. Como você acha que eu agiria depois disso? Que ia sorrir e pedir bis?
Achei que me conhecia melhor, deveria saber que não sou assim.
E eu também admito dois erros: Errei ao pensar que o conhecia e que éramos amigos.
Mas, no fim das contas, isso é bom sabe?! Agora, mais do que nunca, compreendo que as pessoas interpretam muito mal e vêem aquilo que querem ver. Agora eu sei que até mesmo entre os "amigos" preciso estabelecer limites claros.
Agora, sei que preciso conhecer melhor aqueles que chamo de amigos
Sai da sala pisando firme e com as mãos tremendo, tal como entrei. Não olhei para trás, mas sei que ele passou um bom tempo sentado, certamente olhando para o nada.