sábado, 9 de maio de 2015

Cabelo, cabeleira


Há uns dias estive em uma atividade de estágio envolvida com crianças. O trabalho que fomos fazer não importa, mas um fato chamou minha atenção.
Havia crianças de vários tamanhos, cores de pele, cabelos... E todas só se importavam em brincar e aproveitar o banho de mangueira.
Uma das crianças era uma menininha linda, com um nome diferente, olhos um pouco puxados, voz baixa, pele clara e um black power. Sim, ela usava black. (Um retrato perfeito da miscigenação, mostrando que todo brasileiro veio de uma grande mistura.) As crianças aparentemente não se importavam, ela não se importava... Só queriam aproveitar o dia de sol, mas, algumas das pessoas que estavam comigo se importaram e isso me incomodou.
Uma coisa é você não gostar de algo e guardar para si, afinal, não somos obrigados a nada. Mas o que me irritou foram as piadinhas a respeito do cabelo da menina. Porra, qual o problema? Pessoas, no papel de profissionais de saúde, agindo de forma tão, tão... Nem sei como definir tal comportamento. Por causa de pessoas desse tipo que crianças sofrem bullying. Filhos de pessoas assim vêm em casa o comportamento dos pais e o refletem fora de casa. Por causa disso, as crianças deixam de se importar com a diversão e se preocupam com a aparência, em se encaixar, ficar parecidas com os demais e mudam. 
Eu posso está viajando mas para mim isso tudo e muito real. Não é difícil ver meninas por ai alisando o cabelo, mudando sua essência por que "são feias". Elas acham mesmo isso ou foi imposto de alguma forma que aqui é feio, cabelo ruim, pele escura. Ruim porquê? Ruim pra quem?
Eu mesma cresci ouvindo piadinhas por ter um cabelo denominado crespo, rebelde, sem jeito, estressado, nervoso, indisciplinado. Qual é, é um cabelo ou um paciente mental? Apesar de tudo, de todas as criticas, mantive meus cachos, porque sempre gostei de ser diferente mesmo e de desafiar os outros, que olhavam com uma cara estranha, como se eu tivesse um bicho na cabeça. Ah, como me fizeram rir!
Cabelo, pele, características físicas e psicológicas nos fazem ser quem somos e a diferença entre as pessoas é linda e enriquecedora. Imagina que louco seria se todos fossem iguais, um protótipo perfeito e idêntico da pessoa ao lado. Wow, que viagem!
Tudo bem que você não queira ter um black power na cabeça, até porque isso é um presente para as pessoas de estilo e atitude, mas precisa mesmo zoar a menina? Quem é imaturo afinal?



"Fique atento, endo um cabelo tão bom, cheio de cacho em movimento, cheio de armação, emaranhado, crespura e bom comportamento, grito bem alto, sim! Qual foi o idiota que concluiu que meu cabelo é ruim? Qual foi o otário equivocado que decidiu estar errado o meu cabelo enrolado? Ruim pra quê? Ruim pra quem?
Infeliz do povo que não sabe de onde vem. Pequeno é o povo que não se ama, o povo que tem na grandeza da mistura o preto, o índio, o branco, a farra das culturas.
Pobre do povo que, sem estrutura, acaba crendo na loucura de ter que ser outro para ser alguém. Não vem que não tem, com a palavra eu bato, não apanho"


Milionário do Sonho - Emicida

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