quarta-feira, 6 de maio de 2015

Cega


Desde que nascemos, começamos a desenvolver os cinco sentidos e, a partir deles, acumulamos memórias. A visão é, para os nós, seres humanos, um dos mais importantes (se não o mais). Nascer sem esse sentido significa aprimorar os outros quatro, para compensar a falta.
Fico imaginando como será só ouvir sem conhecer o mar, ou nunca ver um sol se pôr. O que eu seria hoje sem o mar e todas as sensações que ele me causa, mexendo com todos os meus sentidos? Como seria não assistir desenho animado na infância? Essas perguntas me assustam e em levam a outras.
O que é pior, nascer sem visão ou perdê-la com o tempo?
Há alguns anos venho perdendo a minha e a sensação de não mais conseguir ver rostos ou identificar pessoas em uma foto é agoniante. Já não consigo fazer coisas básicas como ver a hora no relógio da parede ou ler um bilhete. Agora mesmo, sentada de frente ao mar, não consigo olhá-lo devido a claridade causada pelo reflexo do sol sobre ele.
É tão desesperador sentir-se impotente ao ponto de pedir ajuda algum desconhecido para ver se seu ônibus está chegando na parada; pensar que logo mais talvez eu não possa andar só definitivamente. Perder a visão agora seria automaticamente a perda da minha sonhada e amada liberdade. Como ganhar o mundo com uma mochila nas costas sozinha e sem enxergar? Como verei o tais novos horizontes, as novas paisagens?
Tento não me importar e fazer de conta que depois tudo de ajeita mas a verdade é que não sei. Não sei como, quanto isso acontecerá, mas a perda é diária. A cada dia um pouco mais se vai. E eu fico louca com isso.

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