Sempre fui uma garota tipicamente negra. Desde a infância curtia meus cachos, me encantava pela história afro e tudo a respeito. (Já era uma nerd ligada em história muito cedo).
Na escola muita gente gostava do meu cabelo, elogiavam, diziam querer um. Outros diziam que era feio, pixaim ou coisas assim, porém nunca me importei muito. Mas eu não entendia muito bem as "molinhas" que eu carregava na cabeça. Queria elas compridas e elas sempre subiam mais e mais. Ai eu conheci a química. Ela fez os cachinhos descerem porém diminuíram também. Não havia volume e isso sempre me incomodava um pouco, mas logo ele voltava (junto com a necessidade do retoque) e foi assim por mais de 10 anos.
Mesmo com os produtos fétidos eu ainda tinha meus cachos. As vezes fazia tranças e me amava com elas, achava que exaltava minha cor, minhas raízes. Nunca os quis lisos, achava sem graça e não combinaria comigo de todo modo. Ainda assim pessoas vinham me perguntar porque eu não alisava de uma vez, que ficaria muito bonita ¬¬
Mesmo com os produtos fétidos eu ainda tinha meus cachos. As vezes fazia tranças e me amava com elas, achava que exaltava minha cor, minhas raízes. Nunca os quis lisos, achava sem graça e não combinaria comigo de todo modo. Ainda assim pessoas vinham me perguntar porque eu não alisava de uma vez, que ficaria muito bonita ¬¬
O fato é que há cerca de um ano as coisas começaram a mudar. Fui numa reunião de cacheadas, crespas e afins e isso me abriu os olhos. Elas levaram músicas, textos, suas histórias e a história do povo negro. Isso tudo mexeu comigo. Também comecei a ouvir umas músicas novas para mim: Rap, novos reggaes. Como curiosa assumida que sou, pesquisei mais músicas, mais histórias, fui à Africa, EUA, movimento Black Power nos anos 60. Descobri que essas duas palavras não são só um estilo de cabelo, o cabelo é só uma representação. O movimento mesmo enfatizava o orgulho racial. E depois de tanto ler, tanto ouvir, tanto sentir, cara, que puta orgulho senti!Orgulho por ser quem sou, de trazer em meu DNA uma cultura tão rica!
Conhecer seu cabelo, assumi-lo como ele é significa se entender, compreender de onde veio e para onde pode ir. Sabe, depois que compreendi que meu cabelo pede volume, pede cuidados diferentes, isso me mudou. Ele tem naturalmente estilo e excentricidade, assim como eu. Sou um pouco rebelde, sempre fui meio contra a correnteza, gosto de agir conforme meus pensamentos e odeio que tentem me conter, me controlar. Se eu sou assim como posso querer "domar" meus cachos, "controlar" meu volume? Meu cabelo merece a liberdade e leveza que eu quero para mim. Ele grita para ser livre e tudo que posso fazer e libertá-lo. Libertar dos produtos mágicos, dos grampos e amarras.
Ter o cabelo natural me fortalece a identidade. Não é só uma moda, é um movimento de compreensão, aceitação e liberdade de dogmas e esteriótipos e tendências da mídia. Empoderamento é a palavra. É gostar de si e parar de lutar contra uma essência. Um ato político, uma forma de enfatizar e fortalecer uma história e cultura cada vez mais esquecida, de um povo que muito fez e quase nada tem. Por mais que você mude, seu cabelo cresce mostrando que faz parte de ti e sempre será.
Nem sempre é fácil. Nem todo mundo entende, até mesmo a família e amigos mas, se você sentir essa necessidade dentro de você, não haverão argumentos que te impeçam de florescer tal como és. Entender que isso é uma forma de crescimento pessoal e evolução da sociedade (que cada vez mais tem pessoas assumindo raízes) é fantástico, é do caralh#! O black é power, bebê!
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