Aham, tô ligada que o mundo não pára para que eu conserte minha vida e que enquanto eu fico aqui encarando essas paredes meus colegas estão correndo atrás dos seus futuros, coisa que, inclusive, eu deveria está fazendo, mas como posso pensar no futuro se meu passado ainda se faz presente e o presente é uma desordem total? Como posso avançar uma casa se me sinto estancada?
Eu nunca parei, sempre fui uma pessoa elétrica que nunca para de estudar, sair com os amigos, cantar, escrever... sempre estou fazendo um milhão de coisas, quase sempre ao mesmo tempo, mas estando nesse momento de transição eu me dei o direito de parar. Me permiti parar para refletir e respirar e acho que foi a melhor coisa que fiz em anos.

Aquela desordem me incomodou e eu nem sabia desde quando aquilo estava assim então comecei a fazer o que precisava ser feito. Era um trabalho de formiguinha mas eu também não estava com pressa. Levei meu tempo para colocar cada coisa em seu lugar.
Comecei pela sala. Sendo minha casa tão pequena este espaço acaba sendo o multifuncional e ponto de recepção e reuniões com amigos, é o primeiro ambiente da casa. Tirei os objetos da estante, limpei cada peça, mudei os móveis de lugar, mudei tudo de lugar e depois limpei cada pedaço do chão e das paredes. Percebi a sala maior, ficou tudo muito mais claro e eu acabei ganhando uma enorme parede totalmente branca, que parecia estar esperando ser ornamentada e ganhar vida.
A cozinha foi a parte mais fácil. Lavar, organizar cada coisa em seu lugar, reabastecer os armários, isso me deu muito tempo para divagar em meus pensamentos e colocar algumas coisas no lugar. Depois das compras a casa parecia ser habitada novamente (por pessoas, não vampiros). De lá segui para o mais difícil: o quarto. Lá não havia só roupa espalhada, haviam lembranças. Respirei fundo e comecei.
"Tem umas coisas que a gente vai deixando de ser e nem percebe."
Caio Fernando Abreu
Após duas horas apenas com aquela caixa, joguei muita coisa fora, partes da minha história que não se encaixavam mais. A caixa ficou meio cheia (ou meio vazia?), abrindo espaço para novas partes de minha história que estão por vir e isso me fez sorrir. Limpei tudo e olhei para o quarto, estava visivelmente mais leve e alegre e eu também me sentia assim.
Por fim lavei o banheiro e, após, me dei ao prazer de tomar um belo banho sem pressa (desculpa Terra, economizei o máximo que pude). Lavei e hidratei o cabelo e o rosto. esfoliei a pele, usei meu óleo de banho favorito. Ao sair da banho, ainda enrolada em uma toalha com cabelo pingando, olhei para minha casa: limpa, simples, organizada e apresentável. Era um espaço aconchegante e que me fazia sentir bem por estar aqui.
Enquanto penteava os cabelos, batendo aquele papo com meus cachos, percebi que minha casa é um reflexo de mim. Eu estava uma bagunça ambulante, me sentia mal e não tinha vontade de fazer nada. Colocar as coisas no lugar em minha casa me deram tempo e estímulo para colocar as coisas no lugar dentro de mim, faz algum sentido? Simultaneamente a ordem veio, junto com a alegria e leveza. Sinto me, pronta para sair por essa porta e seguir as metas que tracei há não muito tempo, sinto que posso fazer muitas coisas e viver tantas outras,
Agora só uma coisa me incomoda: aquela parede branca pedindo para ser alegrada. Seria ela meu novo estado de espírito? Uma tela prontinha para receber histórias, cores e amores? Ainda não decidi se colocarei prateiras coloridas, fotos ou uma pintura bem viva. Talvez todos.
Agora minha casa está pronta para receber amigos e família, agora eu estou pronta para receber sorrisos e afetos. E que venham os amores!

"Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim"
Tendo a lua - Herbert Vianna
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