domingo, 15 de novembro de 2015

Liberdade, igualdade, fraternidade

Hoje acordei com uma sensação estranha. Não sei explicar bem como era, mas havia medo de perda, um medo muito forte, o sangue esfriou e senti algo esquisito em todas as minhas terminações nervosas. Ligo a televisão e encontro notícias absurdas, já a internet é mais explicita ainda e me mostra imagens que eu jamais gostaria de ver na minha vida. Rio tomado por lama, caos instalado em ruas, índios queimados, intolerâncias das mais diversas, fugas pela vida, armas nas mãos... vidas marcadas e destruídas. 
Isso me aflige tanto! Fico imaginando em quão absurdo a falta de amor ao próximo tem espalhado pelo mundo. Somos armas, tecnologia de ponta autodestrutiva, suicidas. A humanidade ao longo dos anos mostra cada vez mais que não precisamos de profecias, ETs, desastres naturais para o fim da nossa espécie, nós mesmo somos capazes de fazer isso. As vezes me irrito com a preocupação excessiva dos meus pais, mas em momentos de reflexão como esse percebo que isso tudo é um medo real, um reflexo causado pelas notícias com que nos bombardeiam diariamente. Há medo e sair e ser assaltada, estuprada, há medo do preconceito, há medo da morte. Isso tudo é real e impossível fingir que não é conosco. Pelo egoísmo a humanidade é capaz de matar friamente pessoas (sem se quer saber quem são ou suas histórias) apenas por estarem e determinado lugar ou terem um cultura diferente. Pela intolerância a humanidade é capaz de apedrejar, torturar e matar uma dezena ou milhares de pessoas apenas por não pensarem da mesma forma, ou deixar uma cidade inteira sem água para favorecer negócios particulares. 
Eu, que sempre considerei o lema francês como o mais fantástico do mundo, fico me perguntando onde foi que a humanidade se perdeu, quando foi que ela desenvolveu essa maldade tão... tão... não consigo encontrar uma palavra adequada para o que é isso. Mas ai eu se surpreendo com a resposta que me veio em seguida: desde sempre. Desde que o mundo é mundo a humanidade é o que é. Até mesmo a Bíblia mostra isso ao relatar a história de Caim e Abel, um irmão que mata o outro por ciúmes, o primeiro homicídio da nossa humanidade e depois disso não parou por ai. Depois disso vimos guerras por poder, poses através de mentiras, roubo de pobres para tornar uma minoria mais rica. 
Em dias como este sinto-me mal por ser parte dessa humanidade, tão triste que me cresce a certeza que não quero ter filhos. O sonho de (quase) toda mulher é ser mãe, eu já tive esse sonho também, ver a junção de partes do homem que amarei e minhas em um só ser, traços meus e dele em um serzinho que eu geraria em meu ventre mas, há alguns anos comecei a refletir mais sobre as notícias que leio e vejo. As pessoas parecem amortecidas com tudo isso e parecem achar normal, mas eu não acho, e digo mais: Não acho justo gerar uma criança e apresentar-lhe um mundo que ela não possa apreciar. Não quero que uma parte de minha já nasça com a sensação de medo e insegurança, que não possa confiar nos colegas de escola, que não possa brincar na praia devido ao risco de sequestro ou ataque de tubarão. Medo, medo, medo. Não quero entregar uma parte de mim para esse mundo tão caótico e cheio de ódio, egoísmo e maldade. Eu já amo demais esse pequeno ser para condená-lo à uma vida tão restrita.
Toda a lamentação que possamos sentir não seria suficiente, jamais conseguirei expressar o que sinto com toda a devastação que, infelizmente, somos capazes de causar. Nos destruímos, destruímos nossa terra, os animais e já não há valores suficientes para nos redimir. Não há respeito pela vida nem lágrimas suficientes para chorar tantas dores e tragédias protagonizadas por nós, e dói muito admitir isso, 
Liberté, Egalité, Fraternité.
Liberdade, Igualdade, Fraternidade, esse foi o lema da Revolução Francesa. O mundo precisa entender a significância dessas três palavras. Cada um deve ser livre para ser o que quiser e pensar como quiser; toda e qualquer pessoa deve ser respeitada por suas ações e escolhas, desde que isso não machuque ninguém; todos devemos nos respeitar como irmãos e não fazer nada mais, nada menos que o que gostaríamos para nós mesmo.
Não é porque o ataque terrorista à França me chocou que eu sinto menos pelo Rio Doce, ou pelas pessoas que morrem diariamente vitimas da violência, pelos refugiados da Síria espalhados pelo mundo ou pelos que passam fome. Isso tudo se acumula em mim em uma mistura de impotência, dor e raiva. Acontece que dói mais por ser algo muito direto. Pessoas de carne e osso levantando armas e bombas para matar outras pessoa de carne e osso. Pessoas que olham diretamente o sangue de outra pessoa abandonar seus vasos sanguíneos e espalharem-se em paredes e calçadas, líquido este tão vermelho quanto o sangue do atirador. Isso me choca profundamente, nem falo só da França, falo também dos mortos pelo tráfico, pelo descaso com saúde, pelas mortes gratuitas. Não adianta mudar sua foto do facebook, isso não é solidariedade. Solidariedade a fazer realmente algo a respeito.
Já não tenho esperanças que o mundo possa ser um lugar melhor, mas fazer o bem ao próximo é uma forma de ser melhor. Diariamente tento expandir meus valores, ser melhor e me cercar de gente assim. Gente que ame, que sorria e faça sorrir, gente que ainda sente inquietude quando ver absurdos, gente que faz sua parte para viver numa sociedade melhor. Eu sei que é um trabalho de formiguinha mas precisamos começar de algum lugar. Mudar a nós mesmos, mudar nosso bairro, a cidade. Não sei quando, mas um dia, talvez um dia, essas mudanças positivas possam nos tornar seres um pouco menos humanos. Quem sabe temos a sorte de ser um pouco como alguns animais, tipo os cachorros. Poderíamos aprender muito sobre o amor genuíno com eles.

Faço de mim
Casa de sentimentos bons
Onde a má fé não faz morada
E a maldade não se cria

Me cerco de boas intencões
E amigos de nobres corações
Que sopram e abrem portões
Com chave que não se copia

Observo a mim mesmo em silêncio
Porque é nele onde mais e melhor se diz
Me ensino a ser mais tolerante, não julgar ninguém
E com isso ser mais feliz

Sendo aquele que sempre traz amor
Sendo aquele que sempre traz sorrisos
E permanecendo tranquilo aonde for
Paciente, confiante, intuitivo

Faço de mim
Parte do segredo do universo
Junto à todas as outras coisas as quais
Admiro e converso

Preencho meu peito com luz
Alimento o corpo e a alma
Percebo que no não-possuir
Encontram-se a paz e a calma

E sigo por aí viajante
Habitante de um lar sem muros
O passado eu deixei nesse instante
E com ele meus planos futuros
Pra seguir

Sendo aquele que sempre traz amor
Sendo aquele que sempre traz sorrisos
E permanecendo tranquilo aonde for
Paciente, confiante, intuitivo



Morada - Forfun


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