domingo, 13 de setembro de 2015

Madrugada


São 3h52 minutos. Olho pro lado e levando assustada. Ando descalça pelo corredor do prédio e observo que o carro vermelho ainda está lá embaixo. Será que tem alguém no carro? Ao olhar para o fim da escada vejo um jovem casal. A garota que hoje veste calça de moletom e regata bem cavada azul é minha irmã mais nova. Ela está com a mão nas costas do rapaz, alisando como se o consolidando enquanto ele passa a mão nos olhos quando me vê no topo da escada. Alerto-a sobre o horário, afinal, o dia começa cedo para ela amanhã, embora ache que ela não se importa muito com isso agora.
Há menos de um mês soube que minha irmã está praticamente namorando, pela terceira vez. A diferença é que agora ambos moram na mesma cidade e nossos pais sequer sabem da existência do rapaz, o que faz de mim a grande pessoa responsável e que os acoberta. Acontece que isso já está me deixando doida.
Sabe, ela chegou bem cedo na minha vida e foi minha primeira representação e entendimento do que é amizade. Embora nunca a tenha chamado de amiga, ela é minha irmã e isso basta. Supre a palavra amiga. Eu sei que muita gente talvez não entenda ou não teve a oportunidade de ter uma amiga oriunda dos mesmos pais e morando na mesma casa (quem nunca sonhou em morar com sua melhor amiga?). Eu tive esse presente da vida. Sempre cuidamos uma da outra, desde sempre dividimos brinquedos e preocupações (antes era o esconder o vaso que quebramos jogando bola, hoje é para esconder o namorado, sabe como é, tudo evoluiu), dividimos músicas e ídolos. Com o tempo aceitei que dividíssemos os amigos externos; dividimos roupas, sapatos, sonhos e domingos. Somos assim, sempre fomos.
Agora, namorando novamente vejo que ela não se importar com o cansaço dos longos dias após dois cursos, com a alimentação desregulada. Vejo que mesmo exausta ela não se importa em passar das 4 da manhã, nem que seja só conversando com ele. Me preocupa porque ela não parece muito preocupada com si e me sinto na obrigação de cuidar dela, afinal sempre cuidamos uma da outra. Queria que ela entendesse que pode ficar com ele o tempo que quiser, desde que não se ponha e situação complicada, que não prejudique o sono ou estudos.
Não sei, mas desde ela saiu da casa dos nossos pais e veio morar comigo, me sinto meio que mãe dela. Sou a figura para quem ela diz os horários, pede dinheiro, conta como foi o dia e pede a toalha quando a esquece na hora do banho.
Além de mãe, irmã e amiga. São muitas funções e atribuições entre duas pessoas e, não que eu achei que todo mundo é secretamente devasso, mas confesso que quando a encontrei na escada esperei ver qualquer coisa mais obscena, menos vê-los conversando tão amigavelmente. As 4h da manhã? Nunquinha!
Tudo que quero é que ela seja responsável e feliz. Meu coração de mãe/irmã/amiga não aguenta fortes emoções ainda.

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